Artes & Ofícios: Cadeiras de Buinho
Cadeiras de Buinho (Bunho) / Casa das Artes Mário Elias
Recordo o meu avô Artur, conhecido pelo “mestre Artur”. Deve-se o mestre, ter como profissão, carpinteiro e cadeireiro. Homem calmo, ponderado e principalmente respeitado. Talvez por estes adjetivos antigamente lhe tenha sido atribuído a responsabilidade de ser o “ Cabo Encarregado das Vargens”, localidade onde residia.
Sobre as cadeiras de buinho, em criança lembro-me do meu avô, construir a estrutura principal com paus de loendro e as devidas travessas com estevas, estas escolhidas ao pormenor. Digo isto, porque recordo ver o meu avô chegar pela tardinha com um molho de paus de estevas bem alinhadinhos e todos do mesmo tamanho às costas, de machado na mão com a parte do corte bem embrulhado num pano velho.
Quanto ao buinho e sua aquisição, em época de verão, recordo o meu avô preparar os arreios do macho a carroça e ir à ribeira do Vascão ceifar. No final do dia chegava com a carrada de molhos atados com corda de junca, improvisada no local. Ao chegar, era desatado e espalhado ordenadamente no quintal para a secagem, onde permanecia vários dias, às vezes até semanas. O objetivo era ficar bem seco e sem humidade, para novamente ser atado e acondicionado num espaço reservado e apropriado para o efeito.
Ainda na coleta do buinho, contava-me a minha mãe que em anos de seca o meu avô deslocava-se a uma ribeira para as bandas de S. Marcos da Atabueira. Levava por lá dois ou três dias, pernoitando no campo. Voltava quando tinha a carrada feita na carroça.
No dia em que decidia fazer “fundos” às cadeiras, ia buscar um molho e salpicava-o (borrifava-o) com água. Seguidamente tapava-o com uma saca de serapilheira para que ficasse mais flexível/macio.
Terminados os fundos e cadeiras prontas, entrava eu em cena, na entrega das cadeiras (no monte). Pensando eu que o avô Artur diria o preço do serviço.
Nunca o fez.
Margarida Rosário | Vargens
Foto: Luis Carrapatoso
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